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“A nossa grande aposta é a inteligência artificial de negócio”

Nuno Saramago, diretor-geral da SAP Portugal

“A nossa grande aposta é a inteligência artificial de negócio”

Em 1991, a SAP ganhava o seu primeiro cliente em Portugal. Atualmente, 5.600 organizações, entre as quais 93 das 100 maiores empresas portuguesas, utilizam as suas soluções. Passados 30 anos desde a presença da SAP no mercado português, é a inteligência artificial que vai gerar uma enorme vaga de inovação nos negócios.


Publicado em 29 de Setembro de 2023 às 09:00

Com mais de 25 anos de experiência profissional e um percurso sempre ligado ao setor das tecnologias de informação, Nuno Saramago é diretor-geral da SAP Portugal desde abril. A propósito dos 30 anos da empresa em Portugal, o responsável falou sobre o percurso da SAP, sobre os desafios e oportunidades para as empresas portuguesas e de como as transformações tecnológicas em curso, em especial a inteligência artificial generativa, vão revolucionar os negócios.

Este ano, a SAP completa 30 anos de presença em Portugal, onde continua a ser um dos líderes no mercado do software de aplicações empresariais. Que balanço faz destas três décadas de atividade no nosso país?

O balanço que fazemos é muito positivo, de crescimento sustentável em Portugal, de impacto positivo na vida das pessoas e de uma contribuição muito significativa para a economia nacional. Posso dar alguns números para se ter uma perspetiva do que é atualmente a nossa presença: as nossas soluções são utilizadas por cerca de 5.600 organizações em Portugal, o que inclui 93 das 100 maiores empresas e 14 das 16 empresas do PSI da bolsa nacional. Mas é interessante verificar que não estamos presentes apenas nas maiores organizações: 70% dos nossos clientes em Portugal são pequenas e médias empresas. Há 30 anos, as grandes empresas foram as primeiras a adotar as nossas soluções, mas atualmente a maioria dos clientes é uma PME.

Que marcos destacaria nestas três décadas em Portugal?

Apesar de termos aberto o nosso escritório em 1993, já tínhamos clientes em Portugal desde 1991. O nosso primeiro cliente foi a Galp. O que é interessante é que a Galp continua a ser nosso cliente e muito recentemente renovou a sua parceria com a SAP, ao passar a gestão do seu negócio, num momento de profunda transformação do setor energético, para um ERP de nova geração e na cloud. Em 2012, abrimos em Portugal um centro internacional de serviços da SAP, o que contribuiu muito para o crescimento em número de pessoas. E em 2021 lançámos um um centro de inovação e tecnologias focado no desenvolvimento dos futuros produtos e soluções da SAP.

Ao longo destas três décadas criámos um importante ecossistema à volta das nossas soluções, que tem sido vital para o negócio. Temos parcerias com cerca de 55 empresas em Portugal, mobilizamos um universo de 3.000 consultores e temos cerca de 1.200 certificações em soluções cloud, o que nos traz uma enorme capacidade de implementar e integrar soluções.

E assim chegamos a 2023. Como é que o ano está a decorrer em termos de negócio, e quais são as principais apostas da empresa neste momento?

Chegámos a este ano com um volume de negócios superior a 150 milhões de euros e uma equipa de 600 pessoas. Entretanto, este ano já contratámos mais 70 pessoas, o que espelha a vitalidade do nosso negócio em Portugal. O mercado está com uma dinâmica interessante. Temos tido um aumento significativo da procura das nossas soluções e serviços cloud nas áreas da energia e dos recursos naturais. Notamos, ainda, uma boa dinâmica no setor financeiro, principalmente na área dos seguros, e também no setor dos produtos de grande consumo e do retalho.

Em termos de soluções, o nosso ERP na cloud tem tido uma grande procura porque fomos capazes de construir uma oferta baseada não só no software, mas também em infraestrutura e em serviços, a que chamamos RISE with SAP. E que funciona um pouco como um pacote de “transformação do negócio as a service”, que cada empresa pode adaptar aos seus recursos e necessidades, configurando o software, os serviços, a infraestrutura e a própria oferta. Depois temos a nossa “Business Technology Platform”, em que disponibilizamos as mais recentes inovações e as últimas tecnologias, que podem ser configuradas, adaptadas, integradas. Esta plataforma, para além da gestão dos dados, permite também o desenvolvimento de extensões ao nosso software ERP na cloud.

Nas áreas a que chamamos “lines of business”, as soluções de gestão de fornecedores com Ariba, gestão de colaboradores com SuccessFactors e de gestão de despesas com Concur têm tido uma evolução muito significativa. Em especial esta última, que tem um elevado grau de automatização e integra processos de inteligência artificial na gestão e reporte de despesas.

Tecnologias como a inteligência artificial (IA) a cloud e a Internet of Things estão a ter um grande impacto na transformação digital dos negócios. Como é que a SAP se posiciona e diferencia para servir as necessidades das organizações neste novo contexto tecnológico?

A IA há muito que faz parte da nossa oferta, para automação dos processos de negócio, através daquilo que se chama “machine learning”. O que é novo é a IA generativa, que traz a possibilidade de construção de uma outra realidade empresarial, com a democratização da inteligência artificial. Uma tecnologia que “qualquer utilizador” pode usar e aplicar, até para o desenvolvimento de programas, quando anteriormente teriam de recorrer ao departamento de IT.

Neste contexto, a SAP está a trabalhar naquilo a que chamamos IA de negócio. Ou seja, na utilização de toda esta capacidade da IA generativa, mas no contexto das regras e dos processos de negócio específicos dos 26 setores para os quais temos ofertas dedicadas. Queremos pôr estas novas capacidades ao serviço das empresas. E aqui a nossa vantagem são os dados. Não há inteligência artificial sem dados. A SAP gere os dados de mais de 400 mil clientes em inúmeras indústrias a nível mundial, o que nos dá um conhecimento importante sobre os processos em cada indústria. Podemos aplicar a IA de negócio e fazer com que seja relevante dentro do contexto de cada indústria e de cada empresa.

Podemos fazer com que seja fiável, por ser treinada com os dados daquela empresa e indústria, e garantir que os conteúdos são fidedignos. E podemos assegurar que a tecnologia é utilizada de forma responsável, cumprindo os standards éticos e legais que já utilizamos. Seremos capazes de aplicar a IA de negócio, com base em princípios de relevância, fiabilidade e responsabilidade, nos processos que gerimos e suportamos há muitos anos nas várias indústrias. Penso que isto será algo revolucionário nas empresas.

E qual é a vossa perspetiva sobre o impacto da cloud e da Internet of Things nos negócios? São tecnologias já estabelecidas, mas ainda com grande potencial de transformação dos negócios?

Exatamente. A cloud, como modelo de entrega de software, é importante, porque nos permite levar a inovação aos clientes de forma mais rápida, com ciclos de inovação mais curtos e disponibilizar novas funcionalidades muito mais rapidamente. E porque o esforço de adoção fica consideravelmente reduzido, é mais fácil para uma PME tirar partido dessa inovação e dessa rapidez de acesso à tecnologia. E há aqui um tema que é diferenciador, que é o tema da cibersegurança. A cloud consolida recursos e informação em infraestruturas que beneficiam das mais recentes tecnologias de cibersegurança, que ficam assim ao alcance de qualquer empresa, num ambiente caracterizado por ataques informáticos cada vez mais frequentes e profissionais.


O balanço que fazemos é muito positivo, de crescimento sustentável em Portugal, de impacto positivo na vida das pessoas e de uma contribuição muito significativa para a economia nacional.

Nuno Saramago, diretor-geral da SAP Portugal

Na Internet of Things e na sensorização, trabalhamos com muitos parceiros naquilo a que chamamos “digital supply chain”, em que integramos software e sensores, do backoffice até ao chão de fábrica, onde tudo é cada vez mais automatizado e gerido de forma inteligente. Aqui, a SAP, graças aos parceiros, consegue integrar e utilizar os standards de cada indústria.

Na perspetiva da SAP, quais são as maiores oportunidades e os maiores desafios que as empresas e a economia vão enfrentar a médio prazo?

Vou ter de voltar a insistir no tema da IA generativa. Há uma grande oportunidade para as organizações que forem capazes de fazer a adoção correta destas capacidades, o que implica um investimento sério na requalificação generalizada das pessoas para usarem corretamente e tirarem partido da tecnologia. O sucesso na adoção destas novas funcionalidades de IA irá ditar a futura vantagem competitiva das organizações em Portugal.

Noutra dimensão, a nova situação geopolítica gerou oportunidades para Portugal. Existe um movimento de deslocalização para a Europa e de reconfiguração das cadeias de abastecimento, que pode beneficiar o país e levar-nos a desempenhar novos e melhores papéis na economia mundial, em termos de produção, de serviços e de logística. E penso que a internacionalização continua a ser um caminho, também para as PME portuguesas. 70% dos nossos clientes são PME que podemos apoiar na internacionalização. Não só pela flexibilidade e inovação rápida, mas porque o software e os serviços que disponibilizamos são localizados e, portanto, já cumprem os diversos requisitos necessários para operar nos países onde essas empresas pretendem entrar.

Em termos de desafios, o principal desafio que temos são as pessoas, a contratação e retenção de talento. A SAP, os nossos parceiros, os nossos clientes, sentimos que é cada vez mais difícil ter as pessoas necessárias para adotar e pôr em prática estas novas tecnologias.

Em Portugal, temos bons níveis de formação e bom domínio do inglês e temos cada vez mais empresas a recrutar no nosso país, a criar centros de serviços, o que sendo bom para Portugal é um desafio para empresas como a nossa. Mas reconheço que também as empresas têm muito a fazer no sentido de conseguirem motivar e atrair as pessoas, e criar um ambiente em que as pessoas se sintam valorizadas.

Neste contexto de profunda transformação tecnológica, quais são as apostas da SAP para os próximos anos?

Continuar a investir em Portugal, a fazer crescer a nossa equipa e o nosso ecossistema de parcerias, de consultores e de equipas SAP nos clientes. É uma comunidade que amplifica brutalmente o impacto que a SAP tem na economia. Nesta fase de transformação da SAP, com a cloud, com a IA, o nosso ecossistema é essencial para nos acompanhar – à SAP e aos nossos clientes -, nessa transformação.

Queremos ser o parceiro por excelência dos nossos clientes, ajudando-os a transformar-se, a ganhar agilidade e resiliência para fazer frente a ciclos disruptivos (pandemias, guerras, alterações climáticas) que vão acontecer com cada vez mais frequência. Nesta perspetiva, a nossa grande aposta é aplicar a IA de negócio aos processos de negócio específicos de cada indústria, e estar na linha da frente da modernização e transformação desses setores, da sua resposta aos desafios da sustentabilidade, da governação e da alteração das cadeias de abastecimento, entre outros.

No início da nossa conversa falou no impacto da SAP na vida das pessoas. No entanto, o público em geral pensa nas vossas soluções como algo que diz fundamentalmente respeito às empresas, distante da vida quotidiana…

Embora a SAP forneça essencialmente soluções para empresas, acaba por tocar em muitos aspetos da vida das pessoas. Desde a fatura do gás ou da eletricidade que recebemos em casa, até ao abastecimento dos centros comerciais e dos retalhistas onde nós fazemos as nossas compras diárias. Somos parte do sistema de suporte à economia, que não é muito visível ao consumidor final, mas que garante o funcionamento de grande parte dos sistemas que usamos no quotidiano. Também ajudamos as organizações a serem mais otimizadas, mais eficientes, a poupar custos, a produzir com menos esforço, assim como ajudamos o consumidor a obter bens e serviços mais acessíveis, de maior qualidade e de uma forma mais cómoda.